A fundação do Mosteiro de Santa Maria de Ermelo é uma incógnita que a História ainda não conseguiu desvendar. Contudo, reza a tradição que foi D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, que terá criado este cenóbio. A primeira referência histórica a este monumento conhecida data de 1220, tratando-se das Inquirições de D. Afonso II, onda se afirma que a rainha D. Teresa doou a sua terra reguenga de S. Martinho de Britelo, em Ponte da Barca, ao Mosteiro de Ermelo. Há, no entanto, quem faça recuar ainda mais no tempo a fundação do Mosteiro de Ermelo. Segundo algumas correntes historiográficas, terão sido os Beneditinos a erguer o mosteiro no século XII na freguesia de S. Pedro dos Arcos, atual freguesia de S. Pedro do Vale, deslocando-o mais tarde para Ermelo.
Adoção da Regra Cisterciense
Foi no decorrer do século XIII que a comunidade monástica de Ermelo adotou a Observância Cisterciense da Regra de S. Bento. Nascida em França nos finais do século XI, esta nova Ordem chegou a Portugal no decorrer no século XII. Conhecidos pelos Monges Brancos, por terem o hábito branco, tiveram a proteção de D. Afonso Henriques e da aristocracia portucalense. O seu apogeu em Portugal ocorreu entre os séculos XII e XIII, sendo a abadia de Alcobaça uma das maiores da Ordem.
Crise do séc. XIV afeta Mosteiro de Ermelo
O século XIV é conhecido na história pela crise que afetou a Europa. Os maus anos agrícolas causaram fome. As guerras, das quais a Guerra dos Cem Anos é um dos exemplos, trouxeram destruição. As doenças, como a Peste Negra trouxeram um incremento da morte e uma forte descida da demografia. Portugal, como não podia deixar de ser, não é alheio a tudo isto, tendo a agravar a situação a crise de sucessão, de 1383-1385, depois da morte de D. Fernando. Desta crise sai vencedor o Mestre de Avis, D. João I, a quem o abade D. Frei João Martins pede a anexação para o Mosteiro de Ermelo das igrejas de Britelo e do Soajo, o que é concedido em 1388.
Tentativa de extinsão do Mosteiro de Ermelo
Em Novembro de 1441 é consignado o auto de extinção e redução do Mosteiro de Santa Maria de Ermelo a igreja paroquial. No entanto, a situação deve ter-se mantido por pouco tempo na medida em que, poucos anos depois, nos documentos voltam a encontrar-se referências ao Mosteiro de Santa Maria de Ermelo, entre as quais uma de particular interesse, datada de 1497, em que o Rei D. Manuel I confirma todas as honras, mercês e privilégios concedidos pelos seus antecessores.
Abade Geral visita Mosteiro de Ermelo
A 20 de Janeiro de 1553, o Abade Geral de Ordem de Cister, Dom Edmundo de Saulieu, visitou o Mosteiro de Santa Maria de Ermelo. Acompanhado pelo seu secretário, Frei Cláudio de Bronseval, verificou e testemunhou o estado de degradação do cenóbio. Dom Edmundo de Saulieu, que estava de visita à Península Ibérica, mandou suprimir o Mosteiro de Ermelo. Mais tarde, em 1581, o Abade Comendatário de Ermelo desiste do Mosteiro em favor de Alcobaça, ficando os bens anexos ao Colégio Universitário de S. Bernardo de Coimbra. No entanto, é conhecida uma carta de confirmação de Francisco Barreto Meneses como abade do Mosteiro, datada de 1632, o que leva a crer que extinção não surtiu efeito.
Novos sinais de ruína no séc. XVIII
Do século XVIII chegam notícias que voltam a dar conta do estado de ruína a que terá chegado o Mosteiro de Santa Maria de Ermelo. O visitador Marcelino Pereira Cleto queixa-se, em 1754, do mau estado de conservação de todo o edifício, ordenando, por isso, o restauro de todo o edifício e que uma das capelas absidais fosse aproveitada para sacristia. É nesta altura que a igreja do Mosteiro de Santa Maria de Ermelo é reduzida de três para uma nave, tendo a ala sul sido demolida em 1760. É ainda neste século XVIII que são construídas a casa paroquial, a sacristia e a torre sineira.
Classificação de Monumento Nacional
O Mosteiro de Santa Maria de Ermelo foi classificado como Monumento Nacional a 29 de Setembro de 1977. Quase dez anos depois, em 1985, a igreja recebe um conjunto de obras levadas a cabo pela Direção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais. Nesta intervenção foi reparado o telhado, foram retiradas as caliças nas paredes interiores e exteriores, foram reconstruídas as três portas exteriores, foi demolido o coro alto, e foram raspadas as pinturas de tetos, com a exclusão de cinco medalhões com elementos figurados. Mais tarde, em 1996, as técnicas do Centro de S. Martinho de Tibães revelam os frescos existentes na parede do fundo da capela-mor, nas colunas e no vão da janela.
CRONOLOGIA
Séc. XII
A data da fundação do mosteiro é incerta. Há teorias que apontam a fundação pelos beneditinos no século XII, em S. Pedro dos Arcos, atual S. Pedro do Vale.
Séc. XIII
Adoção da Observância Cisterciense da Regra de S. Bento, que promove o ascetismo (renúncia do prazer), o rigor litúrgico e o trabalho como valor fundamental.
1220
Primeira referência histórica ao Mosteiro nas Inquirições de D. Afonso II.
1221
D. Afonso II doa por testamento 100 morabitinos para celebração do seu aniversário.
1279
D. Afonso III lega 50 ou 500 Libras, para celebração do seu aniversário.
1283
D. Dinis apresenta Pedro Martins Real como abade de Santa Maria de Ermelo.
1361
D. Pedro I confirma a eleição de Fr. Estevão Lourenço para prior e abade.
1388
D. João I autoriza a anexação das igrejas de Britelo e do Soajo, para remediar a crise de rendimentos.
1441
Consignado o auto de extinção e redução do Mosteiro a Igreja Paroquial.
1497
D. Manuel I confirma todas as honras, mercês e privilégios ao Mosteiro.
Séc. XVI
Anexação da igreja de S. Pedro do Vale.
1502
Ficam registados os limites do couto do Mosteiro de Ermelo (Terras do Soajo, Mezio, terras de Cabana Maior, S. Jorge e Vilarinho de Garção), estando mencionado que grande parte das terras estava erma.
1533
O abade Geral da Ordem de Cister, Dom Edmundo de Saulieu, testemunha o estado de ruína e manda extinguir Mosteiro.
1546
Na avaliação mandada efetuar pelo arcebispo D. Manuel de Sousa, Santa Maria de Ermelo, rendia apenas 22 mil réis.
1560
Cardeal D. Henrique suprime o Mosteiro e a Igreja passa a paroquial.
1581
O abade comendatário de Ermelo, João de Mendonça, desiste do Mosteiro em favor de Alcobaça, ficando os bens do cenóbio anexos ao Colégio Universitário de São Bernardo de Coimbra.
1760
Conclusão das obras de redução da igreja.
1977
Classificado Monumento Nacional através do Decreto nº 129/77, DR, 1.ª série, n.º 226 de 29 setembro.
1996
Descobertos os frescos da parede do fundo da capela-mor.
LENDA DA FUNDAÇÃO
Conta-se que o rei Ordonho II, governador das Astúrias e de todos os territórios a Sul
conquistados aos guerreiros do Islão, tinha uma filha chamada D.Urraca que era piedosa,
protetora de igrejas e conventos, devotamente dedicada à divulgação da fé cristã.
Um dia, D. Urraca decidiu fundar um mosteiro para frades num local fértil, rodeado de boas águas, em que houvesse sítio
para meditação, vinhedos e trigais que fornecessem pão e vinho para o Mistério Eucarístico. Com o consentimento do pai,
a princesa partiu acompanhada das suas aias e de alguns soldados, tendo chegado à Serra da Peneda onde constatou que
havia silêncio para a oração e uma larga vista sobre uma paisagem pacífica. Então, começou a subir a serra, parando em
alguns locais para repousar, existindo ainda hoje a Bouça das Donas, local onde terá parado para descansar e contemplar
tudo o que a rodeava. Já junto à vila do Soajo, achou o lugar apropriado para a edificação do Mosteiro e, por isso,
contratou os pedreiros para abrir os alicerces. Feliz, D. Urraca regressou a Corte de seu pai para lhe contar a novidade.
Curioso, o Ordonho II perguntou-lhe o que se avistava daquelas alturas. Respondeu-lhe a princesa que se via, para Sul,
as torres da Sé de Braga e o casario da cidade; para Norte, as catedrais de Tuy e de Ourense; para Oeste, as praias;
para Este, campos e montes sem conta. O rei ouviu, e depois de refletir disse a D. Urraca que, apesar de gostar de satisfazer
a sua vontade de servir Deus, não podia despender metade do seu reino neste Mosteiro, considerando demasiado grande esse horizonte.
Assim, Ordonho II ordenou que a princesa encontrasse um outro sítio menos amplo para a construção do Mosteiro.
Triste com a decisão, D. Urraca resolveu mandar edificar o Mosteiro, não no cimo do monte, mas na profundeza do vale,
junto ao rio, no meio das brumas, embrenhado na solidão do ermo. E, por isso, chamou-lhe Mosteiro do Ermelo.
Adaptação do texto de António Manuel Couto Viana, no livro “Lendas do Vale do Lima”,
numa edição da Valima – Associação de Municípios do Vale do Lima, em 2002, p. 77-79
ENQUADRAMENTO GEOFÍSICO
Implantado na localidade com a mesma designação, o Mosteiro de Ermelo ergue-se na margem direita do Rio Lima,
hoje a escassos metros da linha de água, fruto da construção da Barragem do Alto Lindoso que criou uma extensa albufeira.
No quadrante sudeste do município de Arcos de Valdevez, o Mosteiro de Ermelo parece aninhar-se na base da encosta do monte de Outeiro Maior,
(na vertente do Monte Gião para o rio Lima), protegido a Norte e Sul, respectivamente, pelos grandes relevos da Serra do Soajo/Peneda e da Serra Amarela,
encostado ao Parque Nacional da Peneda-Gerês. Este território, com solos de origem predominantemente granítica, que integra o Maciço Antigo ou Maciço
Hespérico, (assumindo genericamente as características geomorfológicas e litológicas deste), apresenta algumas especificidades conferidas pelo vale
do Rio Lima, sobretudo no que ao que ao clima diz respeito. Ocorre um microclima que permite a produção da laranja de Ermelo, (introduzida pelos Monges
de Cister), um fruto de casca fina, doce e sumarento e com poucas sementes. O cenário nas proximidades do Mosteiro de Ermelo é dominado pelos laranjais,
transformando-se a imagem à medida que nos aproximamos do rio, onde domina a vegetação ripícola. Se pelo oposto subimos a encosta, são os matos que se impõem,
depois de passar pelas áreas de pasto. Em toda a área do Alto Minho e em particular no território do Parque Nacional da Peneda - Gerês, como consequência da
diversidade e contrastes da região, que cria habitats terrestres e aquáticos de grande variedade e qualidade, ocorre uma elevada biodiversidade. A riqueza de
espécies animais é muito relevante nos vertebrados e invertebrados. Na área envolvente do Mosteiro de Ermelo não é rara a observação de muitos exemplares de
fauna selvagem como javalis, lobos, raposas, texugos, lontras, aves de rapina e outras espécies de aves como o guarda-rios, entre outros.